- Área: 120 m²
- Ano: 2017
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Fotografias:João Morgado
Descrição enviada pela equipe de projeto. O edifício resulta da necessidade de criação de dois escritórios, com utilização eventualmente autónoma, mas que permitam uma ligação interna, pensando na eventual fusão dos dois espaços. A construção está implantada num terreno de nível, a uma cota sensivelmente 1,00m acima do arruamento, e localiza-se numa envolvente de construções dispersas, com uma forte presença da actividade agrícola.
A escolha do sítio não é portanto irreflectida.
Apesar do programa ser de vertente comercial, a necessidade de despoluição, de regresso à essência, a uma espécie de pureza que permite, sem afectações iniciais, pensar, conceber e produzir novos espaços, condicionou esta escolha que, contrariamente à maioria dos espaços de serviços, não se localiza num centro mais urbanizado.
Há, portanto, um consciente afastamento que permite compensar o cada vez mais frenético ritmo a que as coisas têm que ser pensadas e produzidas. O edifício é o resultado da justaposição de uma série de volumes puros, pouco domesticados, ligados pela necessidade, mas assumindo a sua própria identidade.
O resultado procura, no entanto, ser mais do que um somatório, uma ideia de formulação que expõe, sem receios, a crueza da essência como um caminho possível, a honestidade das formas simples, expostas sem filtros, um objecto de fácil apreensão e simultaneamente de complexidade insinuada num jogo que acentua o dinamismo, pela diferente rotação dos volumes, a sua diferente altimetria e exposição solar, pelos jogos de luz/sombra que provoca, pela aparente ambiguidade de como se mostra, ora exposto na formulação volumétrica ora reservado na ligação funcional que estabelece, filtrada, com a envolvente próxima.
A envolvente, em estado natural, apresenta-se como um cenário de mutação permanente, resultante dos ciclos agrícolas, das estações do ano, das condições climatéricas de cada estação e do sucesso das culturas que proliferam.
O edifício, esse, imutável, vai-se moldando muito mais lentamente e, quanto muito, poderá acusar as patines próprias da sua exposição às condições climatéricas que, a par da longevidade que vai tendo, influem no seu aspecto.
De resto, esta quase imutabilidade do edifício perante um entorno pelo menos ciclicamente mutável expõe o edifício de maneiras que não se controlam - as formas ganham uma aparente importância perante uma natureza que se transfigura quando, ano após ano, se apresentam com essa constância.
A aparente ligeireza do gesto é contrária à resistência da obra no tempo, o que por si só também revela uma certa tensão - a obra parece, mesmo assim, ter resultado de um acto repentino, pouco reflectido, quando na verdade, esta simplicidade resulta de um sucessivo desprendimento de artifícios usados mais comummente noutras circunstâncias, sendo por isso, o resultado de um longo processo de amadurecimento e reflexão.